(Hoje, no Jardim de Infância de Gravelos, Vila Real)
Cada vez mais surgem evidências de que os sistemas de crenças de uma civilização produzem um efeito decisivo sobre o funcionamento do ser humano (psíquico e fisiológico) uma vez que infundem sentimentos de esperança de vitória e são de grande ajuda na superação de dificuldades, mesmo (e principalmente) na vida adulta.
Estas crenças estão muitas vezes plasmadas nos “contos de fadas” cuja função é a de resgatar o “tempo da alma”. A alma tem um tempo próprio, característico, ditado pelos ritmos da natureza, que não costuma ter pressa. O “tempo da alma” é que regula o passo das fases do amadurecimento humano, em oposição à ansiedade e ao acúmulo de questões e de pressões de toda a ordem, que a sociedade moderna exerce sobre os Indivíduos, sobre os Estados e sobre as Uniões.
A verdade é que a maioria dos contos de fadas, que nós conhecemos hoje tiveram, na sua origem, finais muito mais extremos e envolviam temas muito pesados, como canibalismo, homicídio, e tortura. Eram contos recheados de vingança, de assassinatos, de mutilações … Essas histórias da mitologia europeia, que começaram a ser formalmente registrados, em prosa, na Idade Média, eram contadas de pais para filhos e traziam consigo preocupações da vida quotidiana (e nada nobre) como morte, fome, abandono e abusos sexuais.
Pelo contrário, os contos atuais, cheios de esperança e amor, foram fruto de uma preocupação com o impacto psicológico que as crianças podiam sofrer, tendo-se optado, então, pela fórmula mais branda, do politicamente correto.
Fossem essas histórias mais ou menos tenebrosas ou mais ou menos adocicadas elas não deixaram contudo de contribuir para o imaginário coletivo europeu, que certamente queremos que continue comum.
Assim sendo, é mesmo de um "conto de fadas" que necessitamos, de uma encantação determinada que transforme a abóbora, num coche puxado por fortes cavalos brancos.
Imaginar é um ato mágico, já dizia Sartre…pois então dêmos-lhes contos de fadas, acrescentou Einstein, sem hesitar!